Acabamos de sair de Arad, onde participamos de uma emocionante cerimônia de Yom Hazikaron. Estamos voltando agora para o acampamento beduíno, onde termos um fogueira nos esparando (ou seja, essa noite ainda será longa...). Tenho muitas fotos e vídeos do passeio de camelo e da hospedagem beduína que tentarei postar mais tarde, já que agora tanto o tempo como a conexão me limitam. Mas, se tudo correr bem, durante a madrugada (noite no Brasil) esse blog será atualizado.
Agora conto um pouco de como foi nossa experiência:
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Hoje é um dia muito especial em Israel: Yom Hazicaron - o dia em que todo o país lembra e chora aqueles que tombaram na defesa de Israel ou em atentados terroristas. Deixamos o acampamento de Kfar Hanokdim, onde dormimos em tendas e fomos a Arad, a cidade mais próxima das tendas, para participar do ato de Yom Hazicaron. Fomos recebidos por uma belíssima lua nova, cercada de estrelas que, no deserto, dominam invariavelmente a paisagem noturna.
Ouvimos na praça, tomada por uma multidão, a sirene que proclamava o minuto de silêncio, o luto nacional, durante o qual a população emudece. O som que atravessa o país, conectando, por um minuto, todos os seus habitantes, em geral tão diferentes uns dos outros. Em meio a multidão de jovens e adultos que cobre toda a praça todos os anos nesta data, revela-se o rosto da tristeza deste dia. Hoje, em Israel, são lembrados 23.320 soldados caídos e vítimas do terror. Não se trata de um número estimado - aqui se sabe exatamente por quem se está chorando.
Cerimônia de Yom Hazicaron em Arad
Aqui não há família que desconheça, com proximidade maior ou menor, a dor do Yom Hazikaron. Todo israelense tem um amigo, um primo ou mesmo um irmão que não voltará a ver. Ouvimos poemas e canções; escutamos o emocionado discurso da prefeita de Arad, que ressaltou a dor das famílias da cidade que perderam parentes. Uma cidade tão pequena, disse ela, mas com uma lista tão extensa de pessoas que entregaram suas almas na defesa da nação. Uma lista extensa e ensopada de lágrimas - lembrou ela.
Cada um dos nomes dos habitantes falecidos de Arad foi citado - um por um - bem como o local e ano de seu falecimento. Presenciamos aqui um ato triste, porém significativo. Se vimos na Polônia como os nazistas trataram de remover a humanidade de suas vítimas, removendo sua dignidade, seus nomes (trocados por números), seus pertences, seus cabelos... Aqui foi feito o contrário: cada um foi lembrado, através de seu nome, sua fotografia, sua família, suas lembranças, seus amigos - tudo o que o faz humano. Não estamos lembrando números, mas pessoas - cada uma delas, um mundo inteiro. Todos aqueles que se foram tem um nome.
Compartilho com vocês abaixo um poema de Yehuda Amichai, em homenagem a Yonatahan Iachil (tradução livre deste que vos escreve):
Não temos soldados anônimos
Não temos soldados anônimos
Não temos uma tumba para o soldado desconhecido.
Aquele que deseja depositar um ramo de flores,
Deverá desfazer sua oferenda
Em inúmeras pétalas finas
Multiplicá-las e dispersá-las ao vento.
Todos os mortos retornam a seus lares.
E todos eles tem nome,
E tu também, Yonathan,
Meu aluno, cujo nome está na lista de sua divisão,
Como também na que enumera os mortos.
Asim como você foi meu discípulo,
Fostes também dono de um nome,
Dono do teu nome.
A última vez que me sentei junto a ti
No caminhão que seguia por um caminho de terra
Próximo a Ein Guedi.
O pó se levantava e cobria nossas costas
E não se podiam ver as montanhas.
O mesmo pó que ocultava
o que viria a ocorrer três anos depois:
Agora.
Peço também àqueles que não o conheceram:
Que o amem também após sua morte,
Que o amem agora que ele é oco,
Um lugar vazio, cuja forma é sua forma
E cujo nome é seu nome.
Yehuda Amichai
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