Para fazer o nosso Kabalat Shabat, fomos até o Kotel, palco de uma alegre e colorida festa todas as sextas feiras. Gente de todos os lugares, de todos os tipos, se unindo para receber o Shabat. Nós começamos o nosso minian e, rapidamente, se juntaram a nós alguns israelenses e alguns americanos. Rezaram conosco e depois também cantaram e dançaram.
Voltamos caminhando até o nosso hotel, uma oportunidade de observar a cidade no seu descanso. É como estar em outro universo. A fisionomia das pessoas é outra porque serena. Ninguém parece estar correndo ou com pressa. Não há compromissos ou reuniões - salvo chegar em casa (ou no hotel) para o jantar com a família. As lojas fechadas, os escritórios apagados; os sinais de trânsito não parecem ser mais do luzes de enfeite, diante das ruas onde os pedestres superam em número os veículos. Caminhamos sobre as linhas do trem urbano sem qualquer preocupação, já que os trens não circulam no Shabat.
Pode parecer inocente, mas cruzar com desconhecidos pelas ruas e receber de cada um um sorriso e um cumprimento "Shabat Shalom" ou "Guit Shabes" é ímpar. E isso se repete com tanta naturalidade e beleza - cada pessoa que cruza nosso caminho, sorri e diz "Shabat Shalom". Religiosos, laicos e ultra-ortodoxos: todos em Jerusalém abrem o mesmo sorriso para saudar um desconhecido que cruzam na rua porque é Shabat. O Shabat une a cidade.
Jantamos no nosso hotel e então também aproveitamos um pouco do descanso do Shabat. De manhã, foi possível dormir até mais tarde e aproveitar um pouco o hotel. De tarde, fizemos um passeio para conhecer a região.
Eu, particularmente, tive uma experiência muito especial. Acordei bem cedo e fui na reza no próprio hotel. (É muito comum, em Jerusalém e outros lugares de Israel que se instalem sinagogas provisórias ou fixas nos hotéis, pois sempre há muitos hóspedes que querem rezar. Além disso, aqui é muito comum fazer um Bar-Mitsva ou um noivado convidando a família e amigos para passar um Shabat no hotel - de modo que é também comum ir na sinagoga do hotel e acabar rezando junto com um grupo que está comemorando algo.) Percebi então que havia um evento organizado para grupos de estudos e que estava presente o Rishon Letzion, ex-rabino chefe de Israel, o rabino Shlomo Amar.
Foi um privilégio poder estar com ele, ainda que por pouco tempo. Depois da reza ele deu um shiur (aula) do qual participei. Falou por cerca de uma hora, dando oportunidade para perguntas. É impressionante sua genialidade e sua capacidade de citar fontes com precisão e de inferir, transpondo discussões para outros cenários.
Também estava presente o rabino Yehoshua Shapira, rabino chefe de Ramat Gan. Ele contou uma história muito interessante. Segundo ele, certa vez, uma pessoa foi convidada para passar Pessach na casa do rabino Tsvi Yehuda Kook (filho do Rabino Avraham Itschak Kook, primeiro rabino-chefe de Israel).
Na ocasião, o rabino disse, durante o seder de Pessach: "Pessach é a festa mais importante no judaísmo. Comemora a liberdade, a saída do Egito, a própria formação do povo....". Menos de dois meses depois, a mesma pessoa foi convidada para passar a festa de Shavuot na casa do mesmo rabino. Desta vez o rabino disse, entre outras coisas: "Shavuot é a festa mais importante no judaísmo, é a entrega da Torá...."
O visitante, então, interpelou o rabino: "Como assim? O senhor disse que Pessach era a mais importante! Eu estava aqui em Pessach...". O rabino então explicou: "Em Pessach, Pessach é a mais importante. Em Shavuot, Shavuot é a mais importante!".
É uma história que nos obriga a pensar um pouco. Muitas vezes, estamos tão preocupados com outras coisas que deixamos de viver o "hoje". Hoje é o dia mais importante. No presente é que temos a oportunidade de agir, de fazer. É nele que vivemos e, portanto, devemos aprender a valorizar e viver o momento. Claro que o passado e o futuro devem estar sempre em nosso campo de visão - mas o que temos para fazer hoje, isso é o mais importante.
Bom, não alcanço contar tudo o que ouvi hoje do rabino Shlomo Amar.... Ele falou por cerca de uma hora e só não foi melhor porque foi muito curto.
Depois do Shabat, fizemos havdalá e saímos para o Shopping Mamila, sobre o qual escrevi no post anterior. Se conseguir, daqui a pouco posto um vídeo com imagens de hoje à noite.
Muito boa história, o desafio que tem acompanhado nosso povo é de sempre viver o presente, valorizando o nosso passado e olhando para o futuro, mas sempre com os pés no chão e é no presente que nossas atitudes e ações podem mudar o mundo, estes ensinamentos são o verdadeiro tesouro de nosso povo.
ResponderExcluirObrigado por compartilhar conosco !
Elias Litvin Gendelmann