Na tradição judaica há uma grande preocupação com a pessoa - a alma e o corpo. Com cuidado muito especial a Chevra Kadisha cuida individualmente de cada pessoa - rico ou pobre, sábio ou tolo - com humanidade e dignidade. Se vimos ontem a tentativa dos nazistas em Auschwitz em desumanizar os judeus, a preocupação aqui é diametralmente oposta. Aprendemos também no cemitério sobre a diversidade dos judeus de Lodz, em sua maioria trabalhadores de fábricas e industrias textêis, muidos judeus chassídicos e uma família considerada das mais ricas da Polônia no auge da indústria em Lodz - os Poznansky.
Vimos seu imenso mausoléu, adornado no interior por dois milhões de ladrilhos de vidro, trazidos especialmente de Veneza. Um edifício imponente, incomum em cemitérios judaicos que costumam ter por regra que todos os túmulos (por recato) devem ter tamanhos parecidos.
Túmulo da Família Poznansky
Túmulo da Família Poznansky - interior
Túmulo da Família Poznansky - interior (abóboda)
Na entrada do cemitério estão enfileiradas dezenas de lápides, encontradas em vários cantos e cuja verdadeira localização (do túmulo) é desconhecida. Na verdade, há milhares delas e um pequeno conjunto foi posicionado diante do muro para representar todas.
Ouvimos também no cemitério sobre um projeto que já dura anos, do exército de Israel para identificar e preservar a memória dos milhares de judeus que morreram no gueto de Lodz e não receberam uma Matsevá. Soldados vem para cá todos os anos, aprendem a história do lugar e produzem placas para os assassinados aqui com a maio quantidade de dados que conseguem recolher - nome, data de nascimento, data de falecimento. As vezes, conseguem apenas identificar um nome e, por vezes, nem isso. Todos os óbitos foram documentados pelos judeus que viveram no gueto, registraram os óbitos e enterraram os corpos, mas não alcançaram o "luxo" de colocar uma matsevá (lápide) com seus nomes sobre o túmulo.
Vimos então a marcas das valas comuns do final da guerra. Dos quase 250 mil judeus de Lodz, pouco mais de 10.000 sobreviveram ao holocausto.
Lápides diante do Muro
Entrada do Cemitério
Túmulo de Madrichim do Bnei Akiva
Vala Comum
Túmulos da época do Gueto
Projeto do Exército
Fomos conhecer o local onde ficava o Gueto de Lodz e seguimos para o Radegast - a praça de deportação de onde partiam os trens de Lodz. Lá, na estação de onde foram deportados centenas de milhares de judeus do Gueto de Lodz para campos de extermínio há uma locomotiva da época. Atrás dela, vagões de gado com pequenas aberturas laterais, o suficiente para entrar um pouco de ar, mas não para atenuar a sensação de clausura experimentada por quem entra.
Entramos no vagão. Nós somos apenas 35. E ficamos lá apenas por poucos minutos. Ainda assim, experimentamos o desconforto que o vagão proporciona. Nazistas forçavam nestes vagões, não raro, uma centena de pessoas. Sem pão e sem água. Sem banheiro, sem dignidade. Sem saber se viajariam por algumas horas ou por vários dias (e, às vezes, a viagem durava muitos dias). Não havia lugar para que todos se deitassem ao mesmo tempo.
No Vagão
No Vagão
Nesses vagões pais levavam seus filhos, por vezes, ainda bebês. Apinhavam-se nos cantos pessoas de todas as idades, confinadas como gado. Conviviam com os corpos dos que não resistiram, num apertado espaço fedorento, onde não havia banheiro ou privacidade. Idosos lutavam contra a fome, o frio ou o calor, alentados apenas pela esperança de que, talvez, quem sabe, aquele trem não os levaria para a morte, mas para algum campo de trabalhos ou outro destino - o que, com raras exceções, não acontecia.
(Para quem quiser conhecer essa triste realidade e seus dilemas, sugiro assistir "O Último Trem para Auschwitz", que conta a história de 688 judeus deportados de Berlin e sua viagem no trem).
Dentro do vagão, lemos mensagens escritas em vagões de trem por pessoas que, nas paradas, procuravam desesperadamente passar os bilhetes a alguém - um trabalhador da ferrovia ou um transeunte - na esperança de que fizesse o bilhete chegar a um ente querido. E se fosse possível escrever um bilhete e mandar para essas pessoas o que escreveríamos? Fizemos esse exercício - cada um escreveu para si um bilhete.
Passamos por um monumento - um comprido túnel em cujas paredes estão expostas as listas de nomes dos deportados para a morte. As listas são, por si só, um testemunho da crueldade e da eficiência da máquina de morte nazista. Catalogavam, pesquisavam e ordenavam o transporte e a morte de milhões. A humanidade já havia presenciado massacres, guerras e chacinas. Mas nunca antes na história se orquestrou com tamanha racionalidade e de forma tão sistemática o assassinato de milhões. E é nosso dever assegurar que nada que se assemelhe jamais volte a acontecer.
Visto de fora, o monumento se assemelha a um longo trem, no qual estão estampados os anos da guerra e que é puxado por uma locomotiva que se parece a uma chaminé de um forno crematório.
Monumento
Monumento
Monumento
Monumento
Agora estamos no ônibus. São 14:30h (9:30h no Brasil). Daqui a pouco vamos parar para almoçar. Daí temos que seguir direto para Varsóvia - já se aproxima o Shabat.
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